A
incompreensão de muitos urbanistas sobre a articulação dialética entre
espaço urbano e seu planejamento levou à elaboração de muitos planos
completamente desconectados da realidade. No lugar de compreender a cidade para
depois planejá-la, eles imaginavam um futuro e a partir desse futuro analisavam
(julgavam) o presente do espaço planejado (visão teleológica); aquilo que não
estava de acordo com o futuro imaginado, deveria ser modificado.
No entanto, um planejamento
contemporâneo não pode prescindir da compreensão geográfica do espaço: “O
planejamento atual não quer agir apenas para mudar as formas, mas é um
planejamento principalmente sobre o conteúdo, sobre as funções, as ações, sobre
as possibilidades legais sobre o modelo de seu conteúdo social. Porém, o espaço
urbano, as formas e objetos da cidade, os agentes sociais e as relações que mantém
são o marco de partida das demandas para o futuro da cidade, para o seu
planejamento. Mas essa realidade atual do espaço urbano também é a condição e
os limites que o processo de planejamento vai apresentar. Isso não significa
que o processo de planejamento já esteja definido, pela própria organização do
espaço da cidade. Mas é nesse espaço que está o sentido, o conteúdo e a própria
explicação que o próprio processo de planejamento percorre” (Pereira e
Santos, no prelo, p.15).
Esta abordagem nos permite não
apenas planejar, mas igualmente
compreender os processos participativos de planejamento: “a dificuldade
de compreensão dos conflitos nos processos de planejamento urbano, tanto nos
processos ditos tradicionais, como no planejamento participativo, tem sua
explicação nas insuficientes análise e importância dada (d)à cidade que já
existe e seu potencial de influir sobre o futuro. Esse pode ser um novo papel
para os técnicos e pesquisadores no campo do planejamento do futuro da cidade:
uma leitura não apenas técnica e comunitária, mas também científica da cidade.
Uma leitura que vá além das descrições de suas partes, infraestruturas, das
suas desigualdades e de suas “tendências e vocações”; que não seja restrita
apenas à forma, mas que mergulhe também no seu conteúdo, no seu sentido como
espaço de vida da sociedade – o espaço urbano (Pereira e Santos, no prelo,
p.18).
* trecho retirado de artigo que será brevemente publicado nacionalmente.
Bibliografia: Pereira, Elson Manoel et Santos, André Luis. Políticas Públicas de Planejamento Urbano: quais condições para a participação no planejamento das cidades brasileiras? No prelo.
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