segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A contribuição do pensamento geográfico ao planejamento ubano *

             A incompreensão de muitos urbanistas sobre a articulação dialética entre espaço urbano e seu planejamento levou à elaboração de muitos planos completamente desconectados da realidade. No lugar de compreender a cidade para depois planejá-la, eles imaginavam um futuro e a partir desse futuro analisavam (julgavam) o presente do espaço planejado (visão teleológica); aquilo que não estava de acordo com o futuro imaginado, deveria ser modificado.

          No entanto, um planejamento contemporâneo não pode prescindir da compreensão geográfica do espaço:  “O planejamento atual não quer agir apenas para mudar as formas, mas é um planejamento principalmente sobre o conteúdo, sobre as funções, as ações, sobre as possibilidades legais sobre o modelo de seu conteúdo social. Porém, o espaço urbano, as formas e objetos da cidade, os agentes sociais e as relações que mantém são o marco de partida das demandas para o futuro da cidade, para o seu planejamento. Mas essa realidade atual do espaço urbano também é a condição e os limites que o processo de planejamento vai apresentar. Isso não significa que o processo de planejamento já esteja definido, pela própria organização do espaço da cidade. Mas é nesse espaço que está o sentido, o conteúdo e a própria explicação que o próprio processo de planejamento percorre” (Pereira e Santos, no prelo, p.15).

               Esta abordagem nos permite não apenas  planejar, mas igualmente compreender os processos participativos de planejamento:  a dificuldade de compreensão dos conflitos nos processos de planejamento urbano, tanto nos processos ditos tradicionais, como no planejamento participativo, tem sua explicação nas insuficientes análise e importância dada (d)à cidade que já existe e seu potencial de influir sobre o futuro. Esse pode ser um novo papel para os técnicos e pesquisadores no campo do planejamento do futuro da cidade: uma leitura não apenas técnica e comunitária, mas também científica da cidade. Uma leitura que vá além das descrições de suas partes, infraestruturas, das suas desigualdades e de suas “tendências e vocações”; que não seja restrita apenas à forma, mas que mergulhe também no seu conteúdo, no seu sentido como espaço de vida da sociedade – o espaço urbano (Pereira e Santos, no prelo, p.18). 

* trecho retirado de artigo que será brevemente publicado nacionalmente.

Bibliografia: Pereira, Elson Manoel et Santos, André Luis. Políticas Públicas de Planejamento Urbano: quais condições para a participação no planejamento das cidades brasileiras? No prelo.

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