domingo, 5 de fevereiro de 2012

Requentando o novo

Quarta feira passada, ministrando uma aula aqui em Montreal sobre a Geografia da Pobreza, apresentei alguns trabalhos que mostravam a relação dialética do espaço vivido e a sociedade na (re)produção social. Alguns desses estudos foram feitos analisando a possibilidade de certos grupos sociais terem mais ou menos acesso à equipamentos escolares e assim terem igualmente mais ou menos chances de ascenderem socialmente. Lembrei-me então do fechamento de algumas escolas estaduais em Florianópolis e de um artigo que enviei para aguns jornais de Florianópolis, mas não foram publicados:

O fechamento do Colégio Celso Ramos
Quando todos os discursos dos políticos enfatizam a importância da educação para o desenvolvimento econômico e social do país, uma escola estadual na Prainha, em Florianópolis, tem suas portas fechadas pelo governo estadual. Num país com baixíssimos índices na educação (o Brasil ficou em 54º lugar no ranking de 65 países do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), que testa os conhecimentos de alunos de 15 anos. Em uma escala de zero a 6, a média obtida pelo País em 2009 equivale ao nível 2 em leitura, 1 em ciências e 1 em matemática) é de se estranhar uma iniciativa desta ordem.
Mas não quero apresentar uma análise de cunho sociológico que argumentaria através de números e exemplos internacionais de investimentos em educação; quero deixar o testemunho pessoal de um ex-aluno que cursou oito anos de ensino fundamental naquela escola; que fez o ensino médio em outra escola pública (não havia ensino médio no “Celso Ramos” no final dos anos setenta); entrou na UFSC onde cursou a graduação e o mestrado e depois dela se tornou professor. Após cursar doutorado e pós-doutorado na França, esse ex-aluno do “Celso Ramos” (ou do grupinho, como era chamado) tornou-se professor visitante do Instituto de Urbanismo de Grenoble, onde anualmente leciona a disciplina “a cidade latino-americana” no nível de mestrado. Apresento esta trajetória sem a intenção de auto-promoção; é a história de alguém que encontrou as portas do “Celso Ramos” abertas.
Quando dou minhas aulas na França, é difícil é explicar aos franceses as desigualdades   sociais de um país tão rico onde os fatores estruturais são reforçados e mediados por ações de atores políticos descomprometidos com a sociedade onde estão inseridos; é difícil  fazê-los compreender por que o estado brasileiro e as elites locais através de ações públicas, como o fechamento de escolas em comunidades pobres, contribuiem para o aumento dessas desigualdades. 

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