quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Legado da Copa


A Copa do Mundo de Futebol se aproxima. Quando o ex-presidente Lula anuciou sua realização, anunciou igualmente que o país ganharia com infraestrutura, novos aeroportos, transporte urbano coletivo de qualidade nas cidades sede, novas vias urbanas, além, evidentemente de novos estádios. O conjunto desses elementos, que ficaria para a população após a realização do torneio, ele chamou de Legado da Copa. De tudo isto, apenas os estádios ficarão prontos para o torneio; seriam eles entáo o Legado da Copa? Não. Teremos outros resultados.

Juntamente com a herança dos estádios, herdaremos o aumento da dívida pública; herdaremos elefantes brancos que ficarão fechados na maior parte do ano como os estádios de Manaus, Cuiabá e Brasília. É preciso lembrar que Copas anteriores, realizadas em países economicamente mais estabilizados, gastaram menos que o Brasil. A França, por exemplo, construiu apenas um novo estádio, em sua capital (o Saint Denis, localizado ao lado de uma estação de metrô); todos os outros estádios foram apenas reformados e estavam localizados em cidades com forte tradição no futebol; além disto, o número de sedes era bem menor. No Brasil, o governo não abriu mão de construir pelo menos quatro estádios no Nordeste, mostrando que a geografia eleitoral era mais importante que a racionalidade econômica.
A infraestrura, a mobilidade urbana, a melhoria de nossas cidades ficarão para outra ocasião.
Então teremos apenas legados negativos após a realização da Copa que vai parar o país por um mês? Não. Teremos também resultados positivos.
Não tenho dúvida que o grande legado da Copa do Mundo no Brasil foi o despertar de sua população para as verdadeiras prioridades do país; foi ver que existem recursos disponíveis no governo federal para grandes obras; que é possível construir grandes equipamentos com qualidade: o padrão FIFA. Mas, é preciso inverter prioridades: no lugar de estádios, queremos escolas, hospitais, espaços públicos, transporte coletivo.
Desperdiçou-se recursos; despertou a população; ficou a lição.

O que você tem a ver com a Região Metropolitana de Florianópolis?

Você que vive em São José, Palhoça, Florianópolis ou Biguaçu e circula, de carro, ônibus ou moto todos os dias pela BR101 ou Via Expressa presta atenção quando sai de um município e entra noutro?



Para a maioria das pessoas a resposta é NÃO. E não poderia ser diferente porque na verdade vivemos todos numa mesma cidade, no mesmo aglomerado urbano. Isto parece óbvio para muita gente, mas isto não se expressa em nosso dia-a-dia. Nossas linhas de ônibus são planejadas como se cada município tivesse vida própria; assim também acontece com a coleta de lixo, com os taxis, com a definição de onde e como construir novos edifícios e equipamentos públicos etc. O resultado é um maior gasto público e ineficiência dos serviços (por exemplo: o caminhão da Comcap vem no continente recolher o lixo, volta ao Itacorubi onde outro caminhão pega o lixo e o transporta para Biguaçu). Constatamos então uma total falta de solidariedade entre as prefeituras para resolver os problemas que são comuns a todos os municípios que, repito, formam uma única cidade.
E poderia ser diferente? Sim. Em muitos lugares do Brasil e do Mundo com situação semelhante a nossa existem órgãos de administração supramunicipal, metropolitano, que existem para pensar os problemas que precisam ser resolvidos para além do âmbito municipal. Em nosso caso, precisaríamos unir esforços para pensar principalmente a forma de como continuar ocupando e circulando em nosso território, mas de maneira conjunta, ao menos nos quatro municípios citados

Torna-se urgente fazer funcionar uma administração metropolitana e a primeira ação seria a de cria um organismo de planejamento territorial que pudesse pensar conjuntamente os problemas cotidianos daqueles que aqui vivem. Mas isto precisa ser feito de maneira profissional e desvinculada de governos municipais. Esse planejamento tem que ultrapassar os períodos (curtos) dos mandatos municipais. Ou planejamos ou seremos reféns do futuro, seja qual for, pois com certeza ele vai chegar.