terça-feira, 10 de junho de 2014

O teleférico e a Mobilidade Urbana



Mais uma vez assistimos em Florianópolis a uma possível ação da prefeitura municipal desvinculada de um planejamento mais abrangente: a construção de um teleférico ligando o centro da cidade à Universidade Federal de Santa Catarina, passando pelo Morro da Cruz.
Não existe na capital qualquer estudo de conjunto que articule soluções de modo a resolver o grave problema de mobilidade da região conurbada, que envolva os municípios de São José, Palhoça e Biguaçu. É necessário um plano que dê vazão às necessidades de deslocamento da população e de mercadorias em um  território marcado por graves problemas viários, onde há predominância do automóvel sobre outros modais (mesmo transportando menos pessoas que os ônibus e ocupando mais espaço nas vias), com inexistência de maneiras alternativas de fazer a transposição das baías norte e sul, sem um sistema cicloviário abrangente, interligado e seguro, sem calçadas que permitam um pedestrianismo adequado.
Como solução aos graves problemas de mobilidade, a prefeitura impõe (não é uma proposta aberta ao debate público) um sistema caro de bondinhos  (mais de 150 milhões de Reais), de baixa capacidade de transportar pessoas, de alto custo de operação (com alta tarifa ou fortemente subsidiado), de alto consumo de energia e principalmente, desarticulado do resto do sistema de transporte público. O Professor Werner, da Universidade Federal de Santa Catarina, já apresentou várias vezes estudos sobre a baixa capacidade de transporte de pessoas pelo teleférico e seu alto custo de funcionamento.
Com o mesmo custo, seria possível implantar aproximadamente 15 quilômetros de sistema de BRT, considerando não apenas os ônibus articulados de alta capacidade de transporte, mas igualmente a construção de pistas exclusivas, estações de embarque etc.
Seria muito importante para a sociedade se a prefeitura apresentasse as razões de implementação de um sistema tão caro e que não trará mudanças significativas ao nosso cotidiano de engarrafamentos. 

3 comentários:

  1. Professor, eu acredito que isso seja, simplesmente, uma falta grande de vergonha para com o povo e o crescimento da cidade, principalmente no sentido da mobilidade. Fica parecendo que nós, cidadãos de opinião formada, não temos pensamentos e nem inteligência suficientes para assimilar e entender os fatos. É uma lástima viver em um cenário desses, com uma cara de pau absurda por parte dos governantes e do responsável pela gestão do municipio. Enquanto o plano tiver como prioridade interesses secundários acima de qualquer melhoria de vida das pessoas e do crescimento municipal, vamos, infelizmente, continuar batendo com estes tipos de aberrações. Vergonha!!! Espero que a coisa mude de mãos, não o mais rápido possível, tem que ser imediatamente.

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  2. Olá Professor Elson Pereira, a Prefeitura Municipal de Florianópolis o parabeniza pelo debate de tema tão relevante para o desenvolvimento da cidade. Gostaríamos, entretanto, de esclarecer alguns pontos:


    1 - Sobre o Projeto do Teleférico ligando o Centro à UFSC, via Maciço do Morro da Cruz. Nunca houve e não há pretensão de com o projeto resolver todos os problemas de mobilidade urbana de Florianópolis e região. Toda a obra é pensada tendo em vista um investimento em prol da qualidade de vida e da dignidade de dezenas de milhares de famílias que vivem no Maciço e, atualmente, precisam vencer centenas de degraus e ladeiras íngremes, muitas vezes carregando compras e crianças de colo, para chegar em casa. Além disso, os moradores do Maciço terão direito a uma passagem de graça por dia, ida e volta, atendendo um problema de transporte que há anos perdura na região.

    2 - Sobre a integração com a UFSC. Aproveitando o fato da região estar conectada com a Universidade Federal, geograficamente falando, é oportuno pensar que para além das famílias que residem no Maciço, estudantes e outras pessoas possam ter acesso rápido a Universidade com a execução da proposta. A estimativa da Prefeitura é atender até três mil passageiros por sentido/hora, com tempo de percurso entre Centro e UFSC estimado em 15 minutos;

    3 - Sobre os recursos. Com relação a eles, estão garantidos pelo governo federal, que já executou projetos semelhantes com grande êxito em outras cidades, e não podem ser usados para outra finalidade que não esta. Da mesma forma, na semana passada, a presidente da República assinou a liberação de R$ 412 milhões, exclusivamente para obras de mobilidade urbana. Trata-se do maior volume de recursos liberados de uma vez, resultado de mais de um ano de trabalho de elaboração de projetos. Para você ter uma ideia, das 25 cidades brasileiras selecionadas pelo governo federal, apenas Florianópolis recebeu a verba para obra, devido a qualidade dos projetos apresentados e da viabilidade de sua execução. Os recursos financeiros serão destinados também a construção dos primeiros quilômetros de corredores exclusivos para ônibus da história de Florianópolis - corredor exclusivo para ônibus (BRT) da Via Expressa Sul até o Terminal do Rio Tavares; corredor exclusivo para ônibus da avenida da Saudade até o trevo de Canasvieiras (com construção de duas novas pistas na SC-401); duplicação da Rodovia Admar Gonzaga até o Morro da Lagoa -, entre outras obras imprescindíveis para melhorar a mobilidade, priorizando o transporte coletivo de qualidade.

    Agradecemos suas considerações e ficamos à disposição para esclarecimentos.
    Prefeitura Municipal de Florianópolis

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  3. Prefeitura de Florianópolis:

    1 - Poderia por favor esclarecer esse 'todo o sistema foi pensado nos moradores'? Primeiramente porque não consigo encontrar o projeto completo (talvez não procurei da maneira certa), mas especialmente porque todas as notícias que vi a respeito incluiam apenas um ponto de parada no Maciço. Com apenas um ponto, se as pessoas antes tinham que subir escada e ladeiras ao chegar em casa, agora terão que subir ao sair, até o ponto do teleférico; não muda o fato do transporte ser concentrado em um ponto geográfico. Adicionalmente, considero interessante a proposta de moradores da região terem direito à uma passagem de ida e volta, mas isso não apenas não resolve o fato que os outros usuários pagarão uma passagem cara, como acrescenta a questão de se esse investimento em passagens para esses moradores é válido, ou seja, se não haveriam maneiras mais inteligentes (leia-se tão ou mais eficientes que um teleférico porém mais baratas) de utilizar esse recurso do subsídio.

    2 - Considerando o valor de 15km (citado pelo professor Elson) de faixas exclusivas de ônibus que poderiam ser construídas com o mesmo orçamento do teleférico, o trajeto Centro-UFSC, que tem algo como 6,5km, poderia ser cumprido entre 11 e 19 minutos (velocidade média de 20km/h a 35km/h), porém com uma capacidade operacional de até 45mil passageiros/sentido-hora. (http://www.brtbrasil.org.br/index.php/brt/operacionais#.U50QI_ldWAg) Hoje, porém, a preocupação da administração municipal para que esse trecho seja cumprido rapidamente é tanta que a linha UFSC Semidireto - saída sul, a mais rápida a fazer essa ligação, tem apenas 5 horários no dia. Não apenas isso, negligencia-se com um projeto como esse do teleférico que o problema dos estudantes para chegarem até a universidade não é apenas o trecho centro-UFSC, mas o trecho de suas casas (Estreito, São José, Palhoça, etc) até o centro; em outras palavras, negligencia-se qualquer projeto de solução para o problema de mobilidade da região conurbada, como bem destacou o professor Elson.

    3 - É no mínino irresponsável tentar argumentar que os recursos estão garantidos pelo governo federal e que esses não podem ser usados para outra finalidade que não esta, como que desvinculando o governo municipal do federal. Três razões: a) esse dinheiro, se não utilizado aqui, pode ser realocado posteriormente pelo governo federal; b) caso o projeto seja executado, deve-se pensar não apenas no custo de implantação mas também no de manutentação, que será oriundo (no mínimo em parte) do governo municipal; c) o dinheiro foi destinado à essa finalidade pois foi este o projeto apresentado pela Prefeitura, e agora a Prefeitura tenta justificar como se o dinheiro tivesse 'caído do céu' e agora deve ser alocado à essa finalidade.

    Adicionalmente, coloco o ponto de que a prefeitura falou que todos os projetos para os quais foram captados recursos contam com ciclovias e ciclofaixas, porém nada falou sobre a ampliação da rede para bicicletas fora dos locais desses projetos. Sobre o papel da bicicleta na mobilidade urbana não vou dissecar pois este é um tópico já bastante discutido (Google!) e meu post já está demasiadamente longo.

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