A reportagem sobre os brasileiros que compram imóveis na
Flórida, publicada no DC no último 6 de maio, corrobora minha hipótese de que a
elite brasileira abdicou do sonho de viver a cidade no Brasil. Eu costumo dizer
que quando a classe média e média-alta brasileira quer vida urbana ela não se
dirige aos centros de nossas cidades; ela toma a direção dos aeroportos
internacionais para buscar no exterior essa experiência...
Algumas cidades europeias e americanas propiciam bons modos
de vida de urbana: espaços públicos de qualidade, segurança, conviviabilidade.
Paradoxalmente, muitos dos que viajam são os responsáveis pela produção
imobiliária brasileira e constroem cada vez mais espaços segregados e
desprovidos de um mínimo de urbanidade. Há uma falsa compreensão que espaços
privados fortificados trazem segurança. Não percebem que as cidades por eles procuradas
no exterior têm desenvolvido cada vez mais ações de integração entre o público
e o privado e algumas chegam a proibir condomínios fechados e shopings centers
sob a alegação que eles destroem o tecido urbano que propicia a urbanidade e
mais segurança.
Infelizmente esse modus
vivendi tem se expadido para outras classes sociais ao ponto de mesmo os
empreendimentos Minha Casa Minha Vida da grande Florianópolis reproduzirem a
forma segregada de se viver (n)a cidade.
É preciso que repensar a maneira de construir cidades; é
preciso que os produtores imobiliários, mas principalmente os órgãos públicos, compreendam a
íntima relação entre produção individual e construção da cidade. Cidades
dispersas, espaços segregados, shopings centers não contribuem para construção daquilo
que a cidade tem de melhor: a sociabilidade e a convivência urbana. Caso
contrário, só restará o caminho para o aeroporto...
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