Pra ti, Florianópolis
Neste dia em que dizem ser teu aniversário, eu quero te
desejar tudo de bom.
Tu que a todos acolhes, embora de maneira muito diferente;
alias, há muito tempo tu fazes isto; desde o tempo em que teus governantes
expulsaram os pobres do Rio da Bulha até hoje quando ignoras muitos deles
morando nas mais de sessenta favelas que estão em teu território. Mas acho que
não és tu que ignoras os pobres, pois eles também são Florianópolis; é Floripa,
este apelido que te deram para atrair turistas e que justifica tantas ações em
teu nome. Aliás, não quero te ver tratada por Floripa; marketing de segunda
categoria não combina contigo; não precisas, tens essência, tens povo, tens
identidade, e isso tudo desde sempre, Florianópolis.
Também não és mais Desterro, pois encontramos em ti a terra para viver.
Felicidades por teu aniversário, mas desculpe pelo desleixo
com o qual és tratada: como tuas lindas praias podem estar poluídas e a empresa
pública responsável por teu saneamento ter lucro e o distribuí-lo para seus
diretores? Como pode teu território continuar sendo ocupado sem um mínimo de
planejamento, deixando que cada nova ideia, muitas vezes pouco pensada, se
instale de maneira irreversível como a Estação de Tratamento de Esgoto na tua
sala de visita ou um sistema de ônibus ineficiente e caro?
Não nos queira mal, mesmo que sobre teu território alguns rasguem
notas de dinheiro e joguem espumantes caríssimos fora como signo de riqueza
(pobres almas), quando tantos nada comem sobre este mesmo território; não nos queira
mal mesmo que cubram teus cursos d’água e digam que as enchentes são por causa da
chuva intensa; não nos queira mal mesmo que ideias (e obras) mirabolantes te
afastem do mar como um aterro em teu centro histórico; não nos queira mal mesmo
se a administração municipal ignore aqueles que vivem em teus distritos e
clamam por espaços públicos, ciclovias, segurança e melhores condições para se
locomoverem.
Te amo Florianópolis; não sou do contra; sou a favor que
continues bela e atraente com tua silhueta de mulher curvilínea e não
retificada por muros de arrimo.
Te amo Florianópolis e quero te ver sendo construída, mas de
outra forma: favorecendo o encontro das pessoas e mostrando que a diferença é
riqueza social e não justificativa de segregação.
Te amo Florianópolis com todos os teus sotaques, todas as
tuas cores, todas as tuas formas de ver o mundo.
Estes são os votos de quem te conhece desde que nasceu na
periferia de teu centro (como tantos outros), de onde, de um ponto de vista
privilegiado, pôde ver tua transformação: viu primeiro a prainha onde brincava
se encher de areia branca e lodo, vindo do fundo do mar da baía sul; viu a água
ficar mais longe e as regatas a remo desaparecerem, assim como os grito das
torcidas do Riachuelo, Aldo Luz e Martinelle. Depois viu surgir muitos campos
de futebol de areia, espontaneamente, apropriados pela população; mas as
estradas precisaram ser construídas e eles também desapareceram, como a favela
do Sete, o galpão dos Tenentes do Diabo e parte da quadra de esporte da Escola
Básica Celso Ramos onde eu estudava.
Lá no centro também muito coisa desapareceu, mas isto eu só fui
entender muito tempo depois.
Que teu futuro nos pertença.
Elson Manoel Pereira
(a Prainha onde eu morava)
Elson, como sempre tu nos fazes refletir..parabéns para você!
ResponderExcluirUMA PENA... COM O DESAPARECIMENTO DO GALPÃO DA CENTENÁRIA SOCIEDADE CARNAVALESCA TENENTES DO DIABO, A CIDADE ESQUECEU UM POUCO DE SUA HISTÓRIA NO PERÍODO CARNAVALESCO. HOJE, A TENENTES LUTA PARA RETRATAR UM POUCO AQUELE PASSADO RECENTE. DE MUITO SUCESSO, ALEGRIA E DEDICAÇÃO DAQUELA COMUNIDADE (PRAINHA). MERECEMOS RESPEITO! www.tenentesdodiabo.com.br
ResponderExcluirLinda postagem! Florianópolis e sua população merecem mais...mais do que serem igualmente geridas como em outras tantas... É única. É linda! É possível!
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